quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Crianças de comunidades pobres apresentam déficit na motricidade e no equilíbrio





Por Renata do Amaral

Nem toda criança que não para quieta é assim porque é desobediente ou hiperativa: ela pode estar sofrendo um déficit nas habilidades motoras ou no equilíbrio corporal. Essa é a temática pesquisada pela professora de Fisioterapia da UFPE Maria das Graças Paiva, que analisou crianças da Zona da Mata (Gameleira), de bairros do Recife (Coque e Coelhos) e do Sertão (Calumbi) – este último estudo foi coordenado pela professora Karla Ferraz Lambertz – e verificou que elas estavam com desenvolvimento motor aquém do esperado para a idade cronológica.
Segundo ela, foi uma surpresa constatar que os escolares da região metropolitana apresentaram desempenho mais baixo que os da zona rural. A pesquisadora vem estudando o assunto desde sua tese de doutorado, concluída em 2008. Fazem parte da sua equipe a mestranda Carla Raquel de Melo Daher, os graduandos Rosemberg Alves Belém, Viviane Afonso Ferreira Guedes e Viviane Lucena de Albuquerque e a fisioterapeuta Dayse Myrthes Valença.
Para obter os resultados, foram realizados testes de habilidades de acordo com a Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) proposta pelo professor Francisco Rosa Neto, da Udesc, de Santa Catarina. O método avalia a motricidade fina (relativa ao manuseio de objetos), a motricidade global (referente a movimentos mais amplos) e o equilíbrio para determinar a idade motora geral (IMG). A escala foi criada especialmente para as características das crianças brasileiras.
Também foram verificadas as medidas antropométricas, que comparam a estatura com a idade cronológica, segundo a Organização Mundial de Saúde. Por meio desse parâmetro, é possível classificar as crianças entre 5 e 19 anos em eutróficas (com nutrição adequada), desnutridas ou que tiveram desnutrição pregressa.
No interior pernambucano, a pesquisa comparou crianças eutróficas àquelas que já passaram por fases de desnutrição. As sequelas da fome são visíveis principalmente nos fatores de motricidade fina, que deveria ser estimulada por atividades como massa de modelar, pintura de dedo e manuseio de brinquedos adequados à idade e ao equilíbrio. No estudo com crianças do município de Gameleira, algumas apresentaram déficit de até 24 meses abaixo da idade cronológica.
CAPITAL – Apenas indivíduos com nutrição normal fizeram parte do estudo no Recife. As causas da disparidade entre a população da zona rural e da região metropolitana ainda vão ser avaliadas nos próximos momentos do estudo, mas a professora afirma que crianças estimuladas por uma maior exploração do meio ambiente têm mais chance de dominar as habilidades motoras. Na cidade, poucas têm a oportunidade de subir em árvores ou nadar em rios, por exemplo.
A culpa também pode estar nas condições socioeconômicas. As comunidades foram escolhidas pelo baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Com idade entre 2 e 17 anos, as crianças são atendidas pelo Instituto Nossa Senhora de Fátima, na Praça Chora Menino. Estudam pela manhã e passam a tarde no local, onde recebem reforço escolar e praticam atividades físicas. Ainda assim, depois de um ano, as que foram reavaliadas (faixa etária de 9 e 10 anos) não evoluíram. O maior déficit foi verificado no equilíbrio, considerando a faixa etária de 4 a 11 anos.
Agora, a pesquisa “Relação do alinhamento postural com o desempenho das habilidades motoras e equilíbrio corporal em escolares” vai partir para uma política de intervenção e oferecer um olhar individualizado para essas crianças. Graça frisa que o estudo é localizado e não pode ser generalizado, mas busca chamar a atenção dos órgãos competentes e auxiliar profissionais de diferentes áreas. “O que representarão no futuro esses déficits para esses seres humanos?”, questiona.
Mais informações
Professora Maria das Graças Paiva

(81) 2126.8490


Postado por Jéssica Sobreira.


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