terça-feira, 12 de julho de 2011

No Paquistão, jovens trocam suicídio por escola e profissão



O Exército paquistanês tem um projeto educativo para reintroduzir na sociedade jovens talibãs, potencialmente suicidas, e ensiná-los a viver como eletricistas ou agricultores. As crianças e jovens recrutados pelos insurgentes são uma das grandes preocupações das autoridades do Paquistão, que lançaram a iniciativa no vale de Swat, abrindo dois centros de reabilitação próximos a Mingora, principal cidade do vale, pouco depois de lançar em 2009 uma grande operação antitalibã na região, que deslocou mais de dois milhões de pessoas.
De forma cada vez mais frequente, as redes jihadistas no Paquistão tendem a recrutar menores de idade para perpetrar ataques suicidas, com promessas econômicas para as famílias. Estas crianças, que despertam menos suspeitas entre as forças de segurança, crescem em uma atmosfera na qual a violência é a linguagem cotidiana.
   
No mês passado, o Paquistão deteve uma menina de nove anos com um cinto carregado de explosivos, enviada pelos insurgentes para atacar um posto das forças de segurança na fronteira com o Afeganistão. "Vim aqui por vontade própria. Quero ser eletricista", disse Ali Khan, um estudante de 22 anos do centro de Mashaal, um dos administrados pelo Exército.
Segundo dados oficiais, 40% dos alunos chegam "de forma voluntária" ao programa, ou seja, foram convencidos por suas famílias ou estão buscando apoio vocacional para abandonar suas relações com a insurgência com garantias econômicas. Outros 40% são detidos pelas forças de segurança e depois introduzidos nas salas de aula desta espécie de reformatórios, enquanto o resto é entregue ao Exército por aldeões ou familiares.
O perfil buscado pelos talibãs, segundo destacam os responsáveis pelo programa, é o de jovens de famílias numerosas, desestruturadas e de baixo nível socioeconômico. "São a espinha dorsal dos talibãs", lembrou Jamil ur Rehman, policial da região.
O mais impressionante destes projetos é o de Sabaoon, também nos arredores de Mingora, idealizado exclusivamente para menores de 18 anos. Segundo a diretora do centro, Feriha Peracha, muitos destas crianças não tinham dificuldades em "ameaçar as pessoas com armas" e, em 65% dos casos, careciam de uma "figura de autoridade" na família.
O mulá Fazlulá, comandante talibã de Swat que encorajava os aldeões através da rádio a que entregar seus filhos à insurgência, fez com que muitas mulheres "sentissem que tinham o poder de enviar" seus filhos diretamente ao céu, lamentou Feriha. Os talibãs extorquem famílias para que entreguem seus filhos, mas também tentam explorar topo tipo de situação: o filho de um paquistanês morto em uma ação do Exército paquistanês é um alvo ideal.
Por enquanto, Sabaoon conseguiu reintroduzir 21 menores na sociedade, enquanto outros 139 estão participando atualmente do projeto, onde recebem a educação de professores e a ajuda de psiquiatras e especialistas. "Religião islâmica, ciências sociais, ciências naturais, matemática, inglês... Há vários professores e aulas de 35 minutos", detalhou um dos professores, Musaid Ahmed, que chegou ao centro há três meses.
As equipes encarregadas deste trabalho educativo não escondem que tentam dar uma narrativa alternativa à dos talibãs, não só baseada em expatriar a ideia que o islã permite os atentados suicidas, mas também em fixar ideias nacionalistas. Também não negam que o objetivo é que os jovens tenham expectativas realistas: trabalhos como o de agricultor e de eletricista são a meta.
Muitos dos jovens têm problemas mentais e pertenciam ao elo mais fraco dos grupos insurgentes: carregavam e limpavam armas, eram soldados de solo ou potenciais suicidas. "São crianças e quero ressaltar que não são radicais nem extremistas. Não têm nem ideia do que aconteceu" concluiu a diretora do centro de Sabaoon.
 

Postado por Jéssica Sobreira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário