sábado, 9 de julho de 2011

Estudantes chilenos fazem 'beijaço' por ensino superior gratuito

Marcia Carmo - BBC Brasil
Estudantes chilenos realizaram na noite de quarta-feira uma maratona de beijos em praças de diferentes cidades do país, como parte de uma série de protestos pedindo reformas no sistema de educação do país. A manifestação, realizada pelos estudantes do ensino médio e chamada de "besatón" ("beijaço"), veio um dia depois de o presidente chileno, Sebastián Piñera, anunciar um novo plano governamental para a educação universitária.


Imagem do movimento 'beijaço'

"Precisamos de milhões de beijos por uma educação pública gratuita no país", comunicaram os manifestantes através do Facebook. A manifestação foi realizada na praça em frente ao Congresso Nacional, na cidade de Valparaíso, a cerca de duas horas do centro de Santiago, e em lugares de norte a sul do país como Arica, Iquique, Antofagasta, La Serena, Concepción, Valdivia e Puerto Montt.
A previsão é que um novo "besatón" seja realizado nesta quinta-feira em Santiago, a capital do país. Nas últimas semanas, os estudantes do ensino médio e, principalmente, universitários intensificaram os protestos pedindo educação gratuita no Chile.

Insatisfação. Na semana passada, mais de 80 mil estudantes realizaram passeata em Santiago, de acordo com estimativas oficiais. Segundo analistas, foi "um dos maiores protestos dos tempos de democracia", como afirmou à BBC Brasil o professor de ciências políticas da Universidade do Chile, Guillermo Holzmann.
"Os protestos mostram a insatisfação dos jovens e os problemas que ainda temos no nosso sistema democrático", disse. Na terça-feira, o presidente Sebastián Piñera anunciou um plano, chamado "Acuerdo Gane" (Acordo Ganhe), que prevê a criação de um fundo de US$ 4 bilhões para o setor universitário, com a ampliação de 70 mil para 120 mil bolsas para universitários, além de outros incentivos para a criação de linhas de crédito, que terão de ser oferecidas pelas universidades aos estudantes de famílias mais pobres.
Mas, segundo opositores, ele não atendeu à expectativa dos universitários de acesso à educação gratuita – as universidades públicas e privadas são pagas no país desde os tempos do regime de Augusto Pinochet e consideradas caras pelas famílias das classes média e baixa. "Alguém disse que deveríamos estatizar nosso sistema educativo. Mas sou contra porque sou a favor da qualidade do ensino", afirmou Piñera, no pronunciamento.
Popularidade. A popularidade do presidente caiu para os níveis mais baixos da sua gestão, segundo levantamentos divulgados esta semana, atingindo 35% em maio - o menor índice de um presidente na democracia, de acordo com o Centro de Estudos de Realidade Contemporânea (CERC). Na quarta-feira, o reitor da Universidade do Chile, Victor Pérez, disse que o anúncio de Piñera foi útil para a "retomada do diálogo" dos reitores com o governo.
"Esperamos que as medidas cumpram a lei que diz que as universidades devem ser instituições sem fins lucrativos", afirmou. As opiniões foram diferentes entre os líderes estudantis. O presidente do grupo estudantil da universidade Federico María, Germán Quintana, disse que não aprova o pacote de Piñera porque apesar da liberação de recursos, "as universidades continuam sendo negócio privado, dificultando acesso dos mais pobres".

As mensalidades na universidades públicas e privadas giram em torno de US$ 400 a US$ 800. Já Camilla Vallejo, presidente de uma das federações dos universitários (FECH) e Giorgio Jackson, líder de outra federação, a FEUC, disseram que querem ler os detalhes do anúncio do presidente para decidir os próximos passos dos protestos.
De acordo com a imprensa local, o ministro da Educação, Joaquín Lavín, tem viagem marcada para o Brasil para ver como funciona o ProUni - lançado no governo Lula. A insatisfação dos estudantes chilenos vem num momento em que os alunos do país mostram melhor desempenho que outros da região, incluindo brasileiros, segundo o Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa).
Segundo especialistas, o Chile deu "saltos na nota de leitura" e "diminuiu a desigualdade no desempenho dos alunos do seu sistema educacional", passando a ser apontado como exemplo no exterior.


Postado por Jéssica Sobreira.


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